Meu pai, Aparecido Cardoso, nasceu em 17 de dezembro de 1950, em Tupã, no interior paulista. Ainda criança, mudou com a família para o município de Grandes Rios, no distrito de Ribeirão Bonito, região central do estado do Paraná. Ali viveu com os pais, Cláudio Cardozo e Benedicta Vieira, e os outros irmãos. Ele era o segundo de 11 filhos. Seu Cláudio não permitia que trabalhasse na roça por conta dos problemas de vista. Por isso, Cidão trabalhava como se fosse taxista, levando as pessoas pra cidade em seu Jipe.
De família muito religiosa, conheceu a esposa na igreja, com quem namorou por dois anos antes de se casar em 5 de abril de 1975. Aparecido e Aparecida. Se existe a “alma gêmea”, certamente era ela. As primeiras semanas foram no sítio do Seu Cláudio e da dona Dita, mas por diversos motivos que se acentuaram com a grande geada de 75, destruindo grande parte das lavouras de café, o jovem casal se mudou para Mauá, no ABC Paulista. Foram de trem de Londrina até São Paulo, levando nas costas as poucas coisas que tinham e na barriga o primogênito.
Com ajuda dos saudosos tios Joaquim e Margarida, o Cidão instalou-se com a família primeiramente no Parque São Vicente. Alugaram uma casa e em janeiro de 76 nasceu o primeiro fruto do casal, Alexandre, o Sande. Logo surgiu a oportunidade da compra de um terreno no Parque das Américas, onde construiu sua casa na qual morava desde então. E logo veio a única filha mulher do casal: nasceu a Adriana, ou simplesmente Ná.
Os anos 80 foram de muita luta. Trabalhou na Rhodia, Coral e, em meio ao momento histórico do final da ditadura militar e das famosas greves sindicais do ABC, o Cidão se viu desempregado. Tanta tristeza culminou entre os anos 84 e 85 com a perda dos filhos gêmeos, André e Anderson, dos quais nunca negou a saudade e a dor que carregava.
O temporal foi passando e os anos 90 chegaram com grande alegria, o nascimento do filho caçula, a raspa do tacho, como costumava dizer. Alessandro, mais conhecido como Tadeu! Além do filho mais novo, os anos 90 trouxeram também a neta mais velha, Ariane, de quem era padrinho. E a Ari só veio com o casamento do Sande e da nora Adriana.
Ao longo dos anos, Cidão se estabeleceu como o mecânico da Pedreirinha, arrumando, muito além de carros, bicicletas, geladeiras, máquinas de lavar… Sua benevolência conquistou os vizinhos que sempre batiam um papo com ele em frente à oficina. Em frente à oficina também sempre tinha a Volkswagen Kombi, paixão do Cidão que superava a paixão pelo Fusca ou pelo “charmoso” Passat marrom.
Muito devoto de Nossa Senhora Aparecida, frequentava as missas nas comunidades São Benedito às 8h30, na Santo Oscar ou Santa Luzia às 10h, e concluía a peregrinação na São Felipe às 19h. E não deixava de participar do Terço dos Homens todas as quintas. Mantinha a romaria à Aparecida anualmente, e mesmo havendo tantos pontos turísticos para conhecer, não abria mão de subir o Cruzeiro acendendo as velas apagadas e rezando ao longo da Via Sacra.
Com um estilo próprio, nunca se apegou à vaidades, mas mantinha sempre a barba grande, os cabelos de lado e um estiloso óculos de sol no rosto, por vezes um óculos de soldador mesmo! Autodidata em vários assuntos, aprendeu a tocar violão e teclado apenas ouvindo, sem nenhum professor. E se enchia de orgulho quando a família o apreciava tocar. Fazia gosto que os filhos também aprendessem.
Enfim, nos anos de 2010 e 2012, chegaram os netos mais novos, Alanys e Ayron respectivamente. Com eles adorava brincar e os levava para o CEU, tanto o das Artes quanto o céu de alegrias. E nem se importava quando as crianças pintavam o sete consigo.
2020 começou com os preparativos, em segredo, da festa das Bodas de Rubi, os 45 anos de casados do Cidão e da Cida. Seria uma festa com muitos convidados, inclusive os parentes do Paraná. E seria na Páscoa, aumentando os motivos de celebrar a vida! Mas a pandemia chegou antes e os convites precisaram ser desfeitos. Só os convites, a festa não! Mesmo sem a centena de convidados, o núcleo da família pode comemorar as bodas de um jeito extremamente simples, mas repleto de amor.
E foi assim, celebrando o amor e a vida, que o Cidão deixou uma das últimas lembranças de sua vida. E, com toda a simbologia que isto nos permite fazer, é assim que devemos nos lembrar dele, como um homem simples, sem luxos, que viveu com intensidade sua nada mole vida e que fica marcada para todos com seu sorriso fácil e espontâneo.
Hoje ele se encontra com os gêmeos e com seus pais na glória de Deus e lá de cima olha aqui pelos seus. Vai com Deus, CIDÃO!!!